Na foto (1964), a equipe de redatores do jornaleco "O Barranco" preparando as pautas a serem publicadas no semanário.
Bastou a
intenção de um grupo de jovens funcionários lotados na Indústria e Comércio de
Minérios Ltda (ICOMI) para que um simples informativo viesse a se tornar o
ponta-pé inicial da história da imprensa em Santana. Ao se reunirem nos
finais-de-semana, durante passeios pitorescos em terrenos particulares ou até
mesmo por ocasião de uma descontraída partida de futebol no gramado do Estádio
do Santana Esporte Clube (hoje Estádio “Augusto Antunes”), os trabalhadores
novatos da mineradora, nomes como Aurílio Lima, Edison Santos, Reynaldo Pinto,
Gutemberg Menezes, Álvaro França, Francisco Lima e Manoel Araújo, juntariam
suas idéias e criariam um excêntrico jornal denominado “O BARRANCO”, na qual seria o órgão pioneiro do jornalismo amador
na ICOMI.
Oficialmente
fundado na manhã do dia 07 de julho de 1963, carregava estampado em sua capa o
seguinte slogan: “O Barranco: Jornaleco Semanal da Turma do Barranco”, contando
com o talento comunicativo e literário desses 07 operários icomianos que
semanalmente marcavam uma reunião para assim juntarem as informações colhidas
durante a semana e debaterem somente as notícias que seriam posteriormente
publicadas.
Mesmo não
havendo uma sede fixa para seu funcionamento, sua equipe editorial não media
esforços para se reunirem, ora na cantina da empresa ICOMI, ora na casa de
algum de seus redatores, onde buscavam fechar a edição semanal ainda nos dias
de quinta ou sexta-feira, para que todo esse material selecionado fosse
diagramado e formatado – através de um processo manual contendo apenas uma
máquina de datilografia “Olivetti” e um aparelho mimeógrafo (gentilmente cedido
pelo Departamento de Recursos Humanos da ICOMI), onde eram produzidos e
editados os mais de 100 exemplares do jornaleco. O semanário não tinha imagens
fotográficas, apenas gravuras explicativas que acompanhavam os textos
impressos.
Mas com
estas humildes ferramentas, “O Barranco” mostraria sua capacidade de informar,
quando inicialmente circularia apenas nas dependências internas da mineradora,
e após algumas semanas conquistando novos leitores, ampliaria seus objetivos de
comunicação local, indo registrar os acontecimentos sociais e religiosos do
núcleo populacional da Vila Drº Maia.
Deste
núcleo foram publicados diversos acontecimentos notórios, como: o primeiro plano
urbanístico para a Vila Drº Maia (1963); a abertura de novas ruas e avenidas
que interligariam a Vila Amazonas com a Vila Drº Maia (1963); as primeiras
reuniões estatutárias do Independente Esporte Clube (1963); o remanejamento das
famílias das áreas da Olaria para uma área na Vila Drº Maia (1964); o interesse
de técnicos da ICOMI para implantar uma emissora de TV no Amapá (1967), entre
outras notícias.
Vale
ressaltar que o semanário consistia, na verdade, de apenas duas páginas (frente
e verso) que eram divididos por assuntos diversificados, como notícias
comunitárias, notas de reuniões sociais, seção de esportes e seção literária.
Era uma publicação bem modesta, mas bastante eficiente, justamente por contar
um pouco do desenvolvimento social e econômico que vinha consideravelmente se
expandindo pelos núcleos urbanos que posteriormente formariam o atual município
de Santana, onde se incluía comentários críticos e elogiosos sobre alguns
desses importantes fatos para a comunidade santanense.
A idéia
em levar o projeto de informar com o jornaleco era tão determinante que os
gastos na produção e distribuição (gratuita) do folhetim eram custeados por
seus próprios realizadores, recebendo em troca apenas o prestígio de terem
levado a informação ao conhecimento popular. Segundo informações repassadas
pelo saudoso Manoel Araújo, as edições eram distribuídas em blocos de 20
exemplares na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (próximo a Vila
Amazonas) e nas duas únicas escolas existentes na Vila Drº Maia, que eram:
Escola Barroso Tostes e Escola Porto de Macapá (hoje Escola Amazonas).
No final
de 1965, a circulação do jornaleco passou a ser quinzenal devido o custo com
sua publicação ter ficado sob responsabilidade de apenas três colaboradores,
mas ainda mantendo a mesma linha editorial com suas seções e informações a
serem divulgadas. Buscando discutir os variados assuntos que repercutiam
constantemente entre a capital Macapá e as vilas adjacentes da ICOMI, o Padre
Ângelo Biraghi passou a contribuir com seus artigos religiosos e textos de
opinião como forma de estabelecer suas idéias de líder eclesiástico na região e
buscar soluções para os problemas sociais existentes em Santana.
Foi
justamente em um artigo de autoria do padre Biraghi, publicado na edição n.º 29
do jornaleco “O Barranco”, da segunda quinzena de janeiro de 1966 (depois
reeditado em 1973 no jornal “A Voz Católica”), que a prostituição descontrolada
na área portuária de Santana foi levada ao conhecimento das autoridades
competentes, sendo com isso, tomado providências com ações de retiradas de
bares irregulares e empregado um horário limitado para manterem tais
estabelecimentos abertos durante o horário noturno. A repercussão do artigo foi
que popularizou a existência de prostíbulos na zona portuária de Santana,
quando antes essa fama estava voltada para a Doca da Fortaleza (em Macapá).
O
surgimento de novos períodicos que vinham da capital (Macapá) e até mesmo a
falta de investimentos de novos colaboradores forçaria o jornaleco santanense a
reduzir sua tiragem (para 50 exemplares por edição) e passaria a circular
mensalmente a partir de outubro de 1965, mas ainda mantendo seu estilo de
informar os principais acontecimentos sociais das Vilas Dr.º Maia e Vila
Amazonas.
Em maio
de 1967, depois de um longo período de insistentes e complicadas formas de
manter sua circulação, o folhetim “O BARRANCO” encerraria definitivamente suas
atividades em prol da informação comunitária local, mas deixando seu nome
escrito na história das comunicações de Santana.
Até o início do ano de 2001, era possível
encontrar alguns exemplares raros desse jornal na Biblioteca Pública Municipal
de Santana para consulta pública, assim como outros materiais que descrevem a
evolução histórica da comunicação do município. Porém, com o fechamento
temporário da biblioteca e suas constantes reformas físicas, tais jornais foram
inexplicavelmente extraviados, apesar das diversas tentativas de localização
desses materiais durante processo de levantamento patrimonial do acervo
existente naquela instituição bibliotecária.
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