Possuindo um incomensurável acervo de informações históricas, passando de 11 mil assuntos (entre eles, mais de 300 dados biográficos de pioneiros santanenses e mais de 500 fotos históricas que registram o crescimento demográfico e social da cidade portuária do Amapá).



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Mestre Redimilson Anselmo Nobre (1954-2013)


Professor, ex-vereador, ex-vice-prefeito do município de Santana e portador de um coração grandioso. A trajetória de vida dele foi um rosário de vitórias. Nascido na localidade de Limão, no município de Calçoene em 25 de maio de 1954. Filho de Francisco Corrêa Nobre e Gentila Anselmo. O pai, um dos pioneiros de Santana, começou sua vida como comerciante e a mãe, professora. Sendo ele o quinto de uma prole de oito irmãos, iniciou os estudos no Grupo Escolar Porto de Macapá onde a mãe lecionava. Depois transferiu-se para o Grupo Escolar Barroso Tostes, na Vila Dr.º Maia. Concluiu o então curso primário e o colegial no Ginásio Augusto Antunes. Como não havia o 2º grau em Santana, foi estudar no Colégio Amapaense, em Macapá.
Como era de praxe, quem podia e desejava concluir o curso superior teria que ir para Belém (PA) ou para outros centros. Na capital paraense, formou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Fez pós-graduação em Ciências Políticas. Ao retornar para o então Território Federal do Amapá ingressou no magistério. Foi professor de Geografia e Ciências Sociais, no Colégio Amapaense, onde exerceu a função de vice-diretor. Em Santana lecionou as mesmas disciplinas na Escola Estadual Barroso Tostes. Nesta instituição de ensino chegou ao status de diretor.
Orgulho dos Pais – Tinha boas recordações da infância vivida na pequena vila portuária de Santana. Contava com orgulho da proteção e do carinho dos pais, que lhe ensinaram os valores morais e espirituais. A mãe era uma figura do anjo da guarda. Católico convicto e praticante, sempre acompanhado pelos pais, ia cedo para a igreja. E foi justamente na igreja, no Movimento Cristão, que Redimilson Nobre revelou-se como um bom orador, debatedor, inquieto, filósofo e com grande poder de persuasão. A convivência em grupo lhe ensinou a arte da liderança. Aos poucos ia se consolidando o futuro político. Com um caráter sedimentado nos valores da sinceridade, lealdade, honestidade, teve a coragem de dizer o que pensava e a humildade de pedir desculpas quando errava.
Era às vezes intempestivo, mas com o tempo, um homem com todas as razões, na qual dominava seu ímpeto, um comportamento herdado pelo pai. O “seu” Francisco Nobre (também conhecido como “Chico Jacaré”) foi o primeiro Agente Distrital de Santana e havia ganhado da Indústria e Comércio de Minérios S/A (ICOMI), o Projeto Urbano da Vila Maia. “Os engenheiros do extinto Projeto Rondon ficaram fascinado pelo Plano Urbanístico e pediram o projeto emprestado do meu pai, alegando que iriam apresentá-lo na Universidade Federal do Rio de Janeiro e nunca mais trouxeram o projeto de volta. Tempos depois fiquei sabendo que um engenheiro havia sido agraciado com um mérito honroso, apresentando esse projeto como se fosse de autoria dele”, contou magoado o professor.
Um aluno Brilhante – Quem conviveu na infância com Redimilson Nobre relatou que ele sempre demonstrou ser um aluno brilhante, tirando as melhores notas e se destacando em todas as tarefas escolares. Quando universitário, em Belém (PA), notabilizou-se por estar entre os cinco melhores alunos, durante todo o curso. “Não nasci para fazer trabalhos braçais. Por isso sempre procurei estudar, ser o melhor em tudo. Queria assegurar o espaço de destaque na sociedade. Este sempre foi o meu princípio, meio e fim”, comentou Redimilson. Como aluno modelo do Colégio Amapaense, Redimilson foi agraciado várias vezes, pela imprensa amapaense, com o título de “O Grande Estudante”.
No período de 07 a 15 de agosto de 1974 representou o Território do Amapá, no Rio de Janeiro e São Paulo, na Maratona Euclidiana, onde palestras sobre a vida e obra do escritor Euclides da Cunha, eram proferidas por estudantes que representavam Estados e Territórios brasileiros.
O jovem estudante Redimilson Nobre foi escolhido por uma comissão de associados do Lions Clube de Macapá, que havia recebido o convite do evento da Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo do Estado de São Paulo (SP). Redimilson arrebatou o honroso 3º lugar para o Amapá, mesmo tendo disputado com renomados estudantes de todo o país. “Foi a glória amapaense brilhando lá fora”, assim estampava a imprensa da época. Após a conclusão do curso submeteu-se ao concurso público na Capital Federal (Brasília-DF), sendo um dos primeiros colocados. Devido a excelente pontuação, teve o privilégio de escolher o Estado onde gostaria de trabalhar. Decidiu então retornar para a pequena e humilde cidade portuária de Santana (Amapá), com isso, lembrando sempre que o ensino público do então Território do Amapá era bem mais eficiente que hoje.
Resgatando os Velhos Tempos – Redimilson lamentou sobre a qualidade recente do ensino público, se comparado à sua época, onde hoje os alunos de escolas particulares superam em muito os das escolas públicas, deixando-os em desigualdade na concorrência tanto para o vestibular quanto para outros concursos. Criticou duramente a proliferação de inúmeras faculdades e escolas particulares que se formavam constantemente no Amapá. Constatou que o ensino supletivo era uma indústria de analfabetos, onde o aluno não sabia nem o que estava fazendo. Não tendo metas nem destinos, muito menos chance de sonhar com uma universidade. Enquanto professor do ensino público, ele primava pelo que fez por que era um sacerdote. Esteve arrebatando inumeros colegas de salas-de-aula (professores) e tentou repetir façanhas históricas como ocorrido na década de 1970, quando os estudantes do país inteiro disseram não ao ensino privado.
Antigamente, o ensino escolar rigoroso, mas o estudante amapaense estava preparado para garantir seu espaço na universidade. “Havia uma espécie de rivalidade saudável para ficar no pódium de melhor aluno. Como santanense também entrava no jogo e sempre fui destaque.”, dizia Redimilson com um sorriso aberto e com ar de vitorioso.
Política no Sangue – Dizia que todo mundo nascia político. “O homem é um ser político”, falava. Ainda na década de 1970, o jovem estudante já apresentava o dom da comunicação, da expressão, da liderança, estando envolvido com grupos de jovens, movimentos estudantis e outras atividades que interagissem com a sociedade. Fundou o Clube Jovem de Santana e foi presidente do Grêmio Estudantil, por onde passou. Por ser contestador, falante, sempre foi atração. Por isso foi chamado na Fortaleza de São José de Macapá (em 1977), durante o período ditatorial, por suspeita de envolvimento subversivo. Após o interrogatório, foi publicamente elogiado pelas atividades sociais e esportivas que vinha realizando.
Nada de Radicalismo – Professor Redimilson se dizia moderado. Não concordava com o radicalismo da esquerda, que para ele era um socialismo irreal. Acreditava que se mesclar as idéias, equilibrando na balança o que é bom da direita e da esquerda, e aplicando na vida práitca, visaria o bem estar de todos. Como militante partidário, se considerava um autêntico liberal. Devido a esse pensamento e envolvimento social, foi Vereador de Macapá em dois mandatos. A primeira foi em Novembro de 1982, eleito com 1.223 votos, tornando-se um dos três legisladores que representariam Santana na Câmara Macapaense. Para ele, o bom político não prcisava ostentar o poderio econômico, e sim, ser votado por uma opção de melhoria e bem-estar da comunidade, e não por vaidade pessoal.
Em seu primeiro mandato municipal, acompanhou a construção de diversas obras em Macapá e Santana, assim como também paresentou inúmeros Projetos de Lei de sua autoria que foram debatidos e aprovados. Tais como: a construção de uma feira livre no bairro Nova Brasília, em Santana (PL 031/85); a expansaão de lotes urbanos no Jardim Paraíso em Santana (PL 042/85); a colocação de linhasde ônibus para atender os bairros Congós e Muca, ambos se formavam aleatoriamente em meados da década de 1980 (PL 088/85), entre outros requerimentos.
Devido o eloqüente e sensato discurso, sempre foi a atração na Tribuna da Câmara Municipal de Macapá, retornando na legislatura seguinte, reeleito com 1.589 votos. Em 09 de Novembro de 1987, funda em Santana a ELOS (Esporte, Lazer, Organização e Solidariedade), contendo 52 artigos em seu estatuto. Em 1987, atuou como Membro da Comissão de Justiça e Redação do legislativo macapaense, assim como secretário da Comissão de Educação, Saúde e Assistência Social. Participou do II Congresso Municipal do Brasil, em Brasília (DF); participou do XIII Simpósio Tributário, no Rio de Janeiro (RJ); e esteve no XXIV Encontro Nacional de Vereadores, em Natal (RN).
Como vereador questionou duramente sobre os inúmeros problemas sociais que aflingiam as populações de Macapá e Santana, principalmente de sua cidade (Santana), entre muitas reivindicações, houve duas grandes situações que repercutiram na época (1987) na imprensa local e nacional: a permanência de barracas construídas em alvenaria que serviriam de feira popular, ao longo do muro de proteção da empresa ICOMI, na área portuária de Santana. Como na época a Prefeitura de Macapá somente autorizou 32 barraqueiros, fiscais constataram que já haviam mais de 80 barracas montadas no local, onde muitas até já serviam de moradia (o que era proibido na época). Outro fato ocorreu em fevereiro de 1988, quando Redimilson apresentou na Câmara de Vereadores de Macapá, o Projeto de Lei 017/88, que obrigaria a mineradora ICOMI a desativar sua lixeira e auxiliar o Poder Público Municipal na procura de um novo local para a implantação de uma lixeira para uso público, pois, como o recém-criado município de Santana já sofreria com possíveis crescimentos de ordem populacional, a cidade de Santana correria um sério risco de ver uma lixeira doméstica se formar no meio da cidade. A mineradora ainda tentou rebater sobre a situação e manter a lixeira, mas depois acatou o pedido.
Em maio de 1993 recebe o convite do então prefeito de Santana Geovani Borges para assumir a Secretaria Municipal de Educação de Santana no lugar da professora Maria Aparecida, ficando no cargo até junho de 1995. Durante dois anos demonstrou sua capacidade de administrar, onde atualizou o fornecimento de merenda escolar nas instituições de ensino do município; ampliou consideravelmente o número de vagas nas escolas rurais e urbanas de Santana; ajudou na fundação do Conselho Municipal de Educação de Santana em 1994; Participou da reorganização do Conselho Estadual de Educação; entre outas ações.
Vida ModestaDe vida simples, mas sempre atuante foi se mantendo com prestígio no município de Santana, até que em junho de 2000, receberia um convite para integrar a chapa do então Deputado Estadual Rosemiro Rocha para compor na campanha municipal, sendo o candidato como vice-prefeito. Com a vitória de Rosemiro, ainda acumulou o cargo de Secretário Municipal de Saúde por oito meses, fortalecendo os postos de saúde com medicamentos e entregando os postos de saúde da Área Portuária e da Ilha de Santana (recém-reformados).
Mas não só de política partidária viveria o mestre Redimilson. Era torcedor fanático do Flamengo e do Independente Esporte Clube. Criticava severamente os profissionais que não exerciam o sacerdócio do trabalho com amor, dedicação e devoção. Era também contrário aos baixos salários dos servidores, mas dizia que isso também não justificava o descaso, o péssimo atendimento, o destrato com as pessoas, principalmente as mais humildes.
Um dos grandes sonhos de Redimilson era ver todos na escola, com direito à saúde preventiva e curativa, com salários capazes de prover as pessoas de uma vida digna, saudável, alegre, feliz, que não houvesse tanta desigualdade social. Como fervoroso cristão, dizia que esta vida era passageira e que cada um de nós temos uma missão a cumprir, um compromisso com Deus. Deixou-nos na noite de 09 de Agosto de 2013, vítima de parada cardiorespiratória, pois sofria de problemas renais crônicos.
Perderia Santana um filho, mas nossa história ganharia um mito a ser registrado por seu trabalho.