Em 26 de agosto de 1976, um grupo de trabalhadores do setor de produção agrícola da Indústria e Comércio de Minérios Ltda (Icomi), realiza uma assembléia acionária, onde é constituída a Amapá Florestal e Celulose S/A (Amcel).
Seu desenvolvimento na região inicia na localidade de Porto Grande, situada a 110 km de Macapá (AP), onde ali foi implantado um projeto voltado ao plantio de pinus nos campos cerrados amapaenses, quando até então, não consistia sob qualquer utilização econômica. Sua meta visa a formação de um maciço florestal de pinus de 80.000 hectares, no então Território Federal do Amapá, em uma área de cerca de 160.000 hectares, dentro de programas anuais de plantio de 7.000 hectares.
Em primeiros passos, ainda em sua fase de pré-operações, a empresa esteve realizando atividades através de prestação de serviços, principalmente com empresas ligadas ao Grupo construído pelo Engenheiro industrial Augusto Trajano de Azevedo Antunes (refere-se ao Grupo Caemi). Seu quadro inicial possuía cerca de 150 funcionários. Nos princípios da década de 1980, empresas como a CODEPA (Companhia Dendê do Amapá), estiveram integrando o grupo acionário da Amcel, com um percentual de 16 a 25%.
O Plantio e Cultivo Florestal - Esse trabalho foi procedido através de pesquisas sobre o solo e adubações para compensar a grande pobreza nutricional do solo, quando na época era utilizado o método de plantio e mecanização agrícola. Segundo relatórios do período, era tão grande o grau de desconhecimento sobre o solo do cerrado local, pois não havia paralelo em outra região com as mesmas características do projeto.
As condições topográficas fizeram-se necessárias desde o início de seu cultivo comercial em 1977, onde houve o uso intensivo de mecanização em todas as etapas da operação florestal, resultando em maior eficiência e melhor controle das operações.
Devido às orientações repassadas por técnicos da empresa (Amcel), que estavam diretamente envolvidos no projeto, ficou decidida apenas a ocupação dos platôs do cerrado, deixando intactos todos os baixios, matas de galeria, margens e nascentes dos rios, além de combate a incêndios e combate à caça, contribuindo decisivamente para preservação e o aumento da fauna silvestre na região.
A Amcel modernizou a forma de produção de mudas em raiz nua, no preparo do solo e no plantio inteiramente mecanizado. Outra inovação, pioneira no país, foi a exploração mecanizada de árvores inteiras, com uso de equipamentos especiais, denominados "feller-bunchers, skaidders e guindastes florestais" com grande capacidade, com aproveitamento total da árvore e conseqüente redução de desperdícios.
Em junho de 1979, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) aprovou um projeto apresentado pela Amcel para o plantio de pinus em uma área de 2.000 hectares, situados no Território do Amapá, com recursos capitalizados do Fundo de Investimentos Setoriais (FISET) & Florestamento, através de sociedade em Conta de Participação.
De acordo com o Balanço Anual da empresa, até os fins de dezembro de 1982, as florestas implantadas pela Amapá Florestal e Celulose S/A (Amcel) já totalizavam 34.830 hectares. Sendo que a implantação dos Projetos Amcel 04 e 05, em uma área de 3.750 hectares, com recursos diretos do FISET & Florestamento foram concluídos com sucesso.
Em 1984, a Amcel inicia a implantação de um projeto de um banco clonal, que é um pomar de sementes geneticamente melhoradas, com material genético selecionado de suas melhores árvores, visando sua auto-suficiência em sementes de pinus.
Em janeiro de 1987, a companhia inicia a exploração florestal dos maciços mais antigos plantados no ano de 1976. Parte dessa floresta cultivada (26.961 hectares de áreas divididos em 21 projetos) foi implantada com recursos do FISET. O início da operação florestal possibilitou a comercialização de 242.426 toneladas de madeira em toras.
A polêmica aquisição de suas terras - Os projetos apresentados pela AMCEL ao governo brasileiro solicitaram um financiamento médio de US$ 550 dólares por hectare plantado; ou seja, 12 milhões de dólares para um total de 22.252 hectares financiados. Enquanto a AMCEL pediu pelo empréstimo contraído junto a Marubeni Corporation, avaliou sua propriedade com 90.000 hectares plantados com um valor total de US$ 12,5 milhões de dólares. Cada hectare foi avaliado em 139 dólares, ou seja, quatro vezes mais menos do que o valor do recurso público que recebeu do Estado para realizar a monocultura e o “desenvolvimento do Amapá”.
Segundo Lima (¹) relata uma série de atos e manifestações da população local questionando o processo de ocupação dessas terras. Segundo o autor, até agosto de 1996 não se observou novas alterações nos registros das parcelas[11]; mas sabe-se que o grupo econômico que adquiriu o AMCEL continuou expandindo suas plantações sobre terras federais ou sobre as posses dos pequenos ocupantes acima do rio de Araguari, passando a constitui-se no maior bloco de reflorestamento contínuo do Brasil. Em seguida, algumas observações destacadas pelo autor:
Em 1978, o INCRA, promove a primeira alienação de terras no Amapá por meio de Concorrência Pública INCRA/DF/No 01/78[12]. Entre as cláusulas da concorrência figurava uma muito importante, segundo a qual, cada companhia poderia somente concorrer a uma única parcela. Todavia já prevendo o projeto da floresta da AMCEL, fundada em agosto de 1976, empresa do Grupo CAEMI participou com várias proposta. Até aquele momento, o maior dos investidores no Amapá, apresentou proposta para a aquisição de seis parcelas, forjando a participação das empresas do grupo, ou sob o seu controle acionário, na compras das terras: COPRAM Empreendimentos e Participações (12,70% do total da terra); Indústria e comércio de Minério S/A (ICOMI) (10.82%); Mineração Itapagé Ltda (9,15%); Mineração Itamira Ltda (7.80%) e a Mineração Itacurrussá (7.30%), além, do AMCEL (15,40%). Tudo totalizou 63,17% das terras postas à venda.
Em 14 de novembro de 1978, o INCRA estabeleceu o contrato de compra-venda das terras com as empresas do grupo CAEMI, enquanto assegurava os direitos dos superficiários que residiram naquelas parcelas. Cinco anos depois, em 14 de dezembro de 1984, todas as parcelas vendidas seriam dotadas de Título Definitivo de propriedade do INCRA. Não obstante, AMCEL passaria para ser a única controladora de um total de 155.577 hectares da terra entre o km-50 da BR-156 e o rio de Araguari. Como em outras ocasiões, a quantidade de terras aumentou em 11%, ou seja, 171.987 hectares, devido os efeitos demarcatórios.
Em 10 de março de 1993, AMCEL hipotecou essas terras e todas as plantações, que foram avaliadas em 15 milhão dólares (5 milhões pela terra nua e 10 milhões pelas árvores plantadas), em troca de um empréstimo de US$ 8 milhões que contraiu junto à empresa japonesa Murubeni Corporation com prazo de 5 anos para a amortização da dívida. Este empréstimo foi usado para a construção de uma fábrica para a produção do cavaco a partir das árvores de pinus caribea. O montante do empréstimo foi desembolsado em uma única estadia, quanto ao pagamento seria feito a longo prazo com juros de 2% ao ano, regulado pelo mercado interbancário de Londres, “Libor Rate”.
A AMCEL hipotecou as terras obtidas da Mineração Itapagé Ltda. Sendo que outra parte de 340 hectares arrendou à. Das terras obtidas diretamente pela AMCEL, estava a parcela de 8.862, 80 hectares, arrendadas também ao CFA. Do bloco de terras compradas da COPRAM, dispões 7.000 hectares arrendas à CODEPA e outra parcela de 4.598, 36 hectares arrendada à CFA.
Em 1993, o Grupo CAEMI vendeu a empresa CODEPA à Companhia de Palma do Amapá Ltda. (COPALMA), aquisição que incluiu uma parcela de 8.010 hectares. Na Escrita Pública da compra e da venda, a CODEPA alegava ser “legítima e possuidora de uma parcela rural de tal dimensão”. Realmente, consta que a matricula COPRAM foi desmembrada em duas glebas, a Flexal e a Platon, com superfícies de 2.101 e 4.728 hectares respectivamente, e que juntas somariam 6.829 hectares. De onde saíram os 1.010 hectares da diferença entre o arrendamento a venda da CODEPA à COPALMA? Poder-se-ia argumentar que ocorreu invasão de terras públicas?
A burla das cláusulas contratuais que impediram a AMCEL para vender ou transferir suas propriedades hipotecadas gerou uma oportunidade do negócio nas mãos da Marubeni. Entre 1979 e 1986, as terras foram usadas pela AMCEL para obter financiamento público. Por esta razão, a companhia plantou 30.776 hectares com recursos próprios e 22.252 hectares (33,7%) com os incentivos fiscais do governo federal. Para cada três hectares plantados, um hectare foi plantado com dinheiro público, o equivalente a 32 milhões de árvores equivalentes.
A Fábrica de Cavacos - Através da Resolução n. 025/86 do dia 25 de fevereiro de 1986, a Empresa Brasileira de Portos (Portobrás) autoriza a construção e exploração de um atracadouro privativo pela Amapá Florestal e Celulose S/A (Amcel), em Porto de Santana. O objetivo seria sua exportação direta do produto extraído da região florestal do Amapá, evitando assim, sua dependência por parte de outras empresas que também utilizavam de cais.
A partir de 1991, a Companhia começa os estudos de viabilidade de exportação de insumo básico para fabricação de celulose. O interesse parte após um intenso levantamento realizado pela empresa que fornecia diariamente madeira para a Companhia Florestal de Monte Dourado S/A desde 1988.
Em 20 de fevereiro de 1992, a Amcel assina um contrato com a Companhia Docas do Pará (CDP) para utilizar o porto viário de Santana durante os primeiros 10 (dez) anos. O contrato começa a ter validade a partir do dia 01 de março do corrente ano. De imediato, iniciaram-se as obras civis para a instalação de uma moderna fábrica de cavacos naquele porto, onde houve a montagem de uma corrêia transportadora e um carregador de navios com altura de 23 metros no referido ancoradouro.
O investimento inicial para implantação dessa fábrica custou um montante de 18 milhões de dólares, sendo que a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) contribuiu com empréstimos no valor de quatro milhões de dólares. Na tarde do dia 22 de setembro de 1992, a Amcel começa a fazer os primeiros testes operacionais em sua Fábrica de Cavacos em Santana.
Em 17 de dezembro de 1992, com a presença de diversas autoridades políticas e sociais, ocorre a inauguração oficial da fábrica de cavacos de madeira da Amcel, com tecnologia pioneira em toda a América Latina. Com esse fato, os cavacos de pinus destinam-se exclusivamente à exportação, área que exerceu um papel pioneiro no Brasil.
Na época, o produto era pouco conhecido no país, mas possuindo um alto valor de cota internacional em um mercado de cerca de 30 milhões de metros cúbicos anuais. Seus primeiros compradores eram Japão e Estados Unidos, países escandinavos e, em menor escala a França e a Itália.
A venda da Amcel - Em 20 de novembro de 1996, um contrato celebrado entre a Champion Papel e Celulose Ltda, a Jata Administração e Participações S/A e a Companhia Auxiliar de Empresas de Mineração (Caemi), confirma a venda da Amcel, pertencente à Icomi, para o Grupo Champion. Segundo este contrato, as eventuais contingências de natureza cível, tributária, trabalhista e ambiental, relacionadas à gestão anterior, passam a ser de responsabilidade de seu novo controlador acionário.
Com isso, mediante um contrato de compra e venda, a Champion Papel e Celulose Ltda adquirem o controle acionário da Amapá Florestal e Celulose S/A (91.661.745 ações, correspondentes a 81,53% do capital social). Nessa ocasião, a nova subsidiaria da Companhia adquiria 74.520 hectares de áreas plantadas, sendo que parte da floresta cultivada alcançava 12.544 hectares divididos em 12 projetos.
No ano seguinte (1999), A Amcel transfere a titularidade sobre as cotas da Amcel Morada Nova Ltda para a Champion Papel e Celulose Ltda.
Em 19 de junho de 2000, a multinacional Champion Papel e Celulose Ltda é incorporada ao grupo privado International Paper (IP) do Brasil, produtora do papel “Chamex”. No dia seguinte, a diretoria executiva da IP do Brasil faz sua primeira visita oficial às instalações da Champion Papel.
Em 15 de fevereiro de 1998, A Amcel obteve um parecer da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), para o início da formação de florestas de eucaliptos, totalizando 32.217 hectares implantados até 31 de dezembro de 2000, (23.180 em 31.12.1999).
Em 22 de setembro de 2003, a Amcel doa uma extensa área produtiva, situada no Porto do Céu, para o Governo do Estado Amapá, visando a ampliação do Distrito Industrial em Santana.
Repassada para Multinacional nipônica - Em 26 de dezembro de 2006, a International Paper do Brasil firmou o contrato de venda da empresa Amapá Florestal e Celulose S.A. (Amcel), subsidiária exportadora de cavacos de madeira e biomassa localizada em Santana, AP, à Marubeni Corporation e à Nippon Papers Industries Co. Ltda.
Os negócios da Amcel englobam, aproximadamente, 67 mil hectares de florestas plantadas de pinus e de eucalipto nos municípios amapaenses de Santana, Tartarugalzinho, Porto Grande, Ferreira Gomes, Macapá e Itaubal do Piririm, além da produção de cavacos e biomassa.
A Amcel contribuiu de maneira consistente com a IP, com altos índices de produtividade. Seus profissionais, seus produtos de qualidade e uma extraordinária relação comercial com os clientes são características de destaque.
“O sucesso das operações da Amcel não seria possível sem a colaboração dos seus profissionais, que são extremamente competentes, talentosos e comprometidos com as estratégias de negócios da IP no Brasil. Este é o maior dos patrimônios que os novos controladores herdarão: o valor e profissionalismo do quadro de colaboradores da Amcel”, afirmou Maximo Pacheco, presidente Executivo da IP Brasil.
Empregando aproximadamente 1.000 profissionais (entre próprios e prestadores de serviços) especializados no segmento, a Amcel é comprometida com a saúde, segurança e qualidade de vida de seus colaboradores, apoiando as comunidades. Desde 2003, investiu mais de R$ 1,4 milhão em ações sociais em Santana e também nos municípios de Tartarugalzinho, Porto Grande e Ferreira Gomes, que resultaram numa efetiva melhora na qualidade de vida das populações.
A venda da Amcel é importante e estratégica para o Plano de Transformação Global da IP, iniciado em 2005, que estabelece como foco dos negócios os papéis para imprimir e escrever e as embalagens.
A venda da Amcel é importante e estratégica para o Plano de Transformação Global da IP, iniciado em 2005, que estabelece como foco dos negócios os papéis para imprimir e escrever e as embalagens.
FONTES:
- Cavacos, Revista. Publicação trimestral da empresa International Paper do Brasil. Edição de Janeiro/Fevereiro de 2007.
- (¹) LIMA, Ricardo Ângelo Pereira de. Antropizacion, dinámicas de ocupación del territorio y desarrollo en la Amazonia Brasileña: El caso del Estado de Amapá. Bellaterra: Universitat Autònoma de Barcelona, 2004. (Tese de doutoramento).
- Cavacos, Revista. Publicação trimestral da empresa International Paper do Brasil. Edição de Janeiro/Fevereiro de 2007.
- (¹) LIMA, Ricardo Ângelo Pereira de. Antropizacion, dinámicas de ocupación del territorio y desarrollo en la Amazonia Brasileña: El caso del Estado de Amapá. Bellaterra: Universitat Autònoma de Barcelona, 2004. (Tese de doutoramento).
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