Possuindo um incomensurável acervo de informações históricas, passando de 11 mil assuntos (entre eles, mais de 300 dados biográficos de pioneiros santanenses e mais de 500 fotos históricas que registram o crescimento demográfico e social da cidade portuária do Amapá).



sábado, 12 de novembro de 2011

Cinemania do Porto

Cartaz original do filme "Os Dez Mandamentos" (1956) durante sua estadia de exibição no Amapá. Tal cartaz foi recentemente encontrado no depósito de um antigo cinema de Macapá.




Antigamente, quando ainda não tinham trazido a TV para o Amapá, um dos principais entretenimentos que as crianças e os adolescentes adoravam estar envolvido eram com as sessões cinematográficas.

Entre as décadas de 1950 e 1980 chegou a existir três cinemas em Macapá e dois em Santana. As duas únicas salas de projeções da minha cidade portuária eram socialmente diversificadas uma da outra: eram o Cine Nacional e o Cine Amazonas.

O humilde “Cine-Teatro Nacional”, construído na Vila Dr. Maia, foi inaugurado em 1969, numa cerimônia comparada à inauguração de uma grandiosa obra federal, com direito à presença do então Governador do Amapá General Ivanhoé Martins.

De propriedade do paraense Manoel Ribeiro (falecido), que residira em Santana desde 1961, o Cine Nacional, como era popularmente conhecido, exibiu grandes produções do cinema brasileiro e mundial. Ficava localizado na Rua Ubaldo Figueira (entre as Avenidas Santana e Castelo Branco), onde continha cerca de 100 cadeiras, para atender duas sessões diárias. Se não conseguisse chegar a tempo para a sessão das 16hs, tinha que esperar a sessão noturna das 19hs (ou quando não era às 20hs).

Procurou manter seu status de ponto de encontro para a sociedade santanense até o início da década de 1980, quando as locações cinematográficas passaram a sofrer altas infrações que culminaram no fechamento de diversas salas de exibição pelo país.

No mesmo local do extinto Cine Nacional, também chegou a funcionar outro cinema, que foi aberto ao público em outubro de 1988. Era o Cine Veneza II, filial de outro cinema construído na mesma época em Macapá, mas com curta duração, até meados de 1991. O prédio onde funcionou esses dois cinemas continua parcialmente intacto, onde já serviu de ala de ensaios carnavalescos e atualmente divide seu espaço com uma pequena mercearia comercial e uma residência.

Já o Cine Amazonas era uma referência em local luxuoso para apresentações artísticas, teatrais e cinematográficas. Construído pela mineradora ICOMI (sua concessora) numa área nobre da projetada e histórica Vila Amazonas, foi inaugurado em dezembro de 1960, com intuito de propor entretenimento e diversão para a família dos empregados da ICOMI.

Os filmes projetados no Cine Amazonas eram geralmente grandes produções do cinema norte-americano e vinham exclusivamente para locação do cinema da ICOMI. Os desenhos e filmetes infantis eram semanalmente alterados pela gerência do cinema e não havia cobranças na bilheteria para aqueles que tinham até 14 anos de idade.

Climatizado, sua sala de exibição tinha quase 140 lugares para atender às duas sessões diárias de filmes (era um filme diferente em cada sessão), que ficaram em cartazes por até 08 dias consecutivos. Por ser um cinema privado, as sessões eram quase sempre concorridas entre aqueles que residiam na área primária da Vila Amazonas e aqueles que residiam no Staff.

Como naquele tempo os filmes procuravam manter o sucesso por longos períodos, era comum os cinemas exibirem uma produção cinematográfica que tinha sido lançada há muito anos. O que o público exigia era assistir ao filme do começo ao fim, sem dar importância para sua longa data de lançamento. Poderia filmes coloridos ou até mesmo em preto-e-branco.

E falando em filme preto-e-branco, veio em minha memória um “causo” bastante hilário que aconteceu em Santana, justamente em novembro de 1962. Nessa época, a Paramount Pictures do Brasil trouxe para o Território do Amapá o grandioso longa-metragem “Os Dez Mandamentos” (1956), uma super produção do lendário diretor Cecil B. De Mille que contou com um batalhão de estrelas consagradas, que contabilizou e imortalizou o sucesso que o filme se tornaria para a história do cinema mundial.

Para quem já assistiu esta marcante versão bíblica que conta a vida de Moisés e seu povo hebreu, deve ter se fascinado com as imagens inesquecíveis da travessia do Mar vermelho e das dez pragas lançadas sobre o Egito.

Porém, a exibição desse filme no Amapá foi pouco privilegiada para quem residia nas proximidades da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Santana, que era coordenada pelo saudoso Padre ângelo Biraghi. Como a empresa distribuidora do filme trouxe apenas 03 rolos do filme para serem comercializados durante 05 dias, a locações desses rolos foram bastante disputados pelos cinemas de Macapá e os cinemas da ICOMI, o que comprometeu o interesse do Padre Ângelo em alugar um desses rolos para exibir em sua Paróquia santanense.

Após sucessivas conversações com o representante da Paramount, Padre Ângelo conseguiu que um rolo do filme fosse gratuitamente cedido para ser exibido para as crianças carentes da Vila Toco e Kutaca, mas com a condição de devolverem o filme no dia seguinte à exibição. Formalizado o pedido, o padre seguiu de imediato para Santana e espalhou o comunicado sobre a exibição gratuita do filme para quem quisesse assistir.

Quando anoiteceu, um grande número de pessoas adjacentes lotaram o pequeno espaço da Paróquia para prestigiarem o filme que, acabou causando uma certa surpresa para os presentes: a versão do filme trazido pelo Padre Ângelo era preto-e-branco e ainda estava incompleto, o que causou tristeza geral para quem só conseguiu assistir pela metade daquele filme.

Conta a lenda que, em represália, as pessoas que ficaram decepcionadas com a exibição do filme chegavam a comparecer na missa dominical e quando chegava na metade do sermão, se retiravam da Paróquia. Depois de observar tal atitude que se repetiu durante semanas, Padre Ângelo decidiu perguntar para alguns daqueles “gazeteiros de missa” o motivo de estarem fazendo aquilo. Até que um deles lhe respondeu:

– A culpa é do senhor mesmo, Padre. Foste nos prometer com um filme bom, mas a gente só assistiu a metade e não soubemos do resto filme. E assim vamos fazer na missa. Vamos assistir somente a metade e se o senhor quiser terminar o sermão, deixe o resto pra missa da semana que vem.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Inauguração do Turismo por Santana

Um dos muitos fatos marcantes que relaciona a cidade de Santana com o turismo interno e externo deve-se à chegada do transatlântico Rosa da Fonseca, que atracou no cais da ICOMI, na manhã do dia 21 de janeiro de 1964, trazendo cerca de 450 turistas de diversas nacionalidades.

Promovido pela Touring Clube do Brasil, no roteiro do XXVI Cruzeiro Turístico, o Porto também considerado de Santana recebeu carinhosamente os turistas oriundos da Europa e parte da América do Norte.

Os visitantes estrangeiros passaram o dia inteiro conhecendo alguns pontos pitorescos de Santana, como as estruturas habitacionais e administrativas da Vila Amazonas (cinema, supermercado, sede esportiva e hospital), assim como a área portuária e industrial da ICOMI em Santana, na qual tiveram conhecimento da importância socioeconômica da mineradora no Amapá.

Em passeio pela capital amapaense, os visitantes visitaram a histórica Fortaleza de São José de Macapá, conheceram algumas obras desenvolvidas pelo Governo Territorial na cidade (construção de escolas e reformas de prédios públicos) e fotografaram o ponto 0º do Equador, levando como lembranças de que estiveram no meio do mundo.

Por volta das 21 horas do mesmo dia (21), os visitantes retornaram para o transatlântico Rosa da Fonseca, onde continuaram sua excursão pelo resto da região amazônica, após considerarem, assim, inaugurada a era do turismo no Amapá. Os turistas não esconderam sua satisfação pelos esforços empregados pelos organizadores, para proporcionar-lhes a melhor estadia possível no então Território Federal do Amapá.

Segundo a Comissão Territorial da Legião da Boa Assistência (LBA), os turistas do Rosa da Fonseca deixaram mais de um milhão de cruzeiros (cerca de R$ 10 mil) em rendas que foram coletadas por compras feitas de decorações, lembretes, filmes fotográficos e serviços extras.



Outras informações do transatlântico Rosa da Fonseca Para substituir antigos transatlânticos, a Companhia Nacional de Navegação Costeira (CNNC), no início de 1960, encomendou quatro transatlânticos de porte médio destinados à cabotagem brasileira, que levaram o nome de Rosa da Fonseca, Anna Nery, Princesa Isabel e Princesa Leopoldina, homenageando quatro mulheres que fazem parte da História do Brasil. Os dois primeiros foram construídos na antiga Iugoslávia; os dois últimos em estaleiros espanhóis. Eram gêmeos aos pares por país de construção.

O Rosa da Fonseca media 180 metros de comprimento, deslocava 10.451 toneladas, tinha duas hélices, dois porões para carga geral, duas piscinas e transportava 540 passageiros. Em novembro de 1966 passou a integrar a frota do Lloyd Brasileiro. Foi vendido em 1975 para uma armadora que o revendeu para a OSK Lines. Em 1977, passou a ostentar no casco o nome Nippon Maru e fez cruzeiros pelo Extremo Oriente. Com o nome de Athirah, foi finalmente demolido em 1998.

No livro “Navios e Portos do Brasil”, de autoria de João Emilio Gerodetti e Carlos Cornejo, um catálogo publicitário de 1970 aponta com todas as verdades o seguinte sobre o Rosa da Fonseca: “Festival de cruzeiros a bordo de um transatlântico brasileiro com conforto internacional. Luxuosa decoração interna, salão de festas, boate, bares, boutiques, capela, piscinas, amplos deques, dois salões de refeições e a cortesia de uma equipe especializada”.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

60 anos de Rosemiro Rocha



Um caboclo despretensioso, simples, com muitos sonhos, mas sem vislumbrar perspectivas maiores do que trabalhar e ajudar a família. De repente, descortinou-se num açougue. Ao mesmo tempo em que trabalhava a carne, emoldurava um grandioso projeto que nem fazia parte dos sonhos.

Estou falando de Rosemiro Rocha Freires, paraense que nasceu em Gurupá, no dia 07 de Novembro de 1951. Filho de Josias Fortunato Freires e Antônia Rocha Freires, seus pais seguiam a tradicional rotina interiorana: caçar, pescar, tomar banho nos rios. Eram habilidosos na arte da peconha, para tirar o fruto do açaí para suprí-los em seus anseios diários e nas horas vagas retiravam o néctar dos seringais.

Ainda garoto (por volta de 1959), sua família mudou-se para o município de Jaburu dos Alegres (PA), onde ali Rosemiro desenvolveu mais ainda suas habilidades como seringueiro e caçador.

Em Julho de 1964, sua família mudou-se novamente. Desta vez vieram para o então Território Federal do Amapá, fixando residência na antiga Vila Dr. Maia (em Santana), onde logo começou a trabalhar com um primo, que lhe conseguiu uma vaga de ajudante de açougueiro. Inicialmente tímido, o jovem garoto foi logo se abrindo nas tarefasdo açougue, tornando-se ágil em destroçar o gado, sendo também muito falante e extrovertido. Não demorou muito para Rosemiro demonstrar que tinhas dotes, além de retalhar o boi. Conquistou a confiança de diversas pessoas, chegando a assumir o controle de um açougue de um dos parentes. Desde então desvendou a arte de fazer e construir inúmeras amizades.

Como na época Santana ainda era um pequeno distrito de Macapá e as poucas que aqui residiam claramente se conheciam o jovem Rosemiro rapidamente conquistou dezenas de amizades, o que despertou o interesse de políticos que viam naquele rapaz uma futura liderança e um excelente "capitão" eleitoral.

Desde a década de 1970, procurou estar sempre envolvido nos eventos e reuniões ligadas às intenções políticas. Somente na década seguinte (no início do ano de 1982) receberia um convite direto do então governador do Amapá Comandante Anníbal Barcellos para filiar-se ao Partido Democrático Socialista (PSD) e após diversos incentivos de populares, lançou-se à candidatura municipal, sendo eleito o 7º vereador mais votado de Macapá, com 1.265 votos, e também tornando um dos 03 representantes santanenses na Câmara Municipal de Macapá (os outros dois seriam Aroldo Góes e Redimilson Nobre).

Durante esta primeira legislatura, Rosemiro tratou incansavelmente da questão político administrativa de Santana, que ainda pertencia ao município de Macapá e desejava transformá-lo em um município independente. E não mediu esforços para isso. Após marcar diversas audiências ministeriais em Brasília (DF), conseguiu o intento, que formalizou a sua emancipação em 17 de dezembro de 1987, através da Lei Federal n. 7.639, sancionada pelo então Presidente da República José Sarney (atual Senador amapaense).

Após a transformação municipal de Santana, Rosemiro candidatou-se ao cargo de prefeito e conseguiu ser eleito o primeiro representante do Executivo santanense com 5.023 votos. Apesar das dificuldades encontradas, nesse primeiro mandato, deu conta do trabalho. Realizou a reforma de diversas escolas e prédios públicos de Santana, construiu conjuntos habitacionais e ajudou na criação e urbanização de novos bairros como Novo Horizonte, Remédios, Paraíso II, Provedor I e II.

Como reconhecimento da população, foi eleito deputado estadual em 1994. Na Assembléia Legislativa, demonstrou ser um hábil político. Sempre com sorriso pacato, porém decidido, foi abrindo caminho e conseguindo fácil acesso por entre as correntes partidárias. Seu gabinete parlamentar era um corredor de solidariedade, sendo mais procurado que o gabinete do Presidente da Casa.

Pela avaliação de alguns analistas, é considerado um dos políticos mais populares e carismáticos do Estado. Uma prova dessa popularidade foi sua reeleição em 1998, como o deputado estadual mais votado com 5.585 votos, vindo somente a ser superado nas eleições estaduais de 2006.

Mesmo toda essa trajetória, decidiu novamente retornar à Prefeitura de Santana, disputando uma acirrada eleição, enfrentando o candidato do então governador João Capiberibe e o prefeito Judas Tadeu Medeiros. Novamente o apoio incomensurável dos verdadeiros amigos e dos correligionários foi a garantia de sua vitória com 10.886 votos.

Reencontrou a Prefeitura cheia de problemas financeiros, onde teve o grande desafio de reorganizá-lo. Discutiu com a sociedade santanense um programa para seus quatro anos de governo e logo colocou em prática. Foi o primeiro prefeito de todo Estado do Amapá que conseguiu reunir toda a Bancada Federal durante um debate sócio-ambiental ocorrido na Vila Amazonas, onde tratou da situação do manganês contaminado, que estava estocado no pátio portuário de Santana.

Nesses dois primeiros anos de seu segundo mandato, cita-se algumas de suas grandes realizações:

- Sancionou um Decreto que reduzia o horário noturno de funcionamento de bares, boates e similares, como forma de reduzir os índices de violência que assolavam o município;

- Construção do primeiro Restaurante Popular da Região Norte, com refeição ao preço de R$ 1,00;

- Reforma de 16 escolas municipais nas áreas urbanas e rurais;

- Construção de 07 novas escolas municipais;

- Construção das Praças do bairro Paraíso, Vila Amazonas e da Avenida Santana;

- Criação e instituição da Companhia Docas de Santana (CDSA);

- Contratação de novas empresas de transportes coletivos urbanos para Santana, extinguindo o monopólio desenvolvido pela única empresa de ônibus de Santana (São Judas Tadeu);

- Regulamentou o acesso viário de mototaxistas de Macapá pelo município de Santana;

- Criação do passe-livre aos estudantes da rede municipal e estadual de Santana. Somente em 2002, já haviam mais de 14 mil estudantes beneficiados com o passe-livre da PMS;

- Eletrificação 24 horas para a Ilha de Santana, atendido por cabos sub-aquáticos;

Informações Pessoais – Mesmo sendo católico convicto, Rosemiro sempre ajudou e participou de outras doutrinas. É pai de um casal de projetos políticos para o Amapá: seu filho Robson Rocha é vereador de Santana e sua filha Mira Rocha é deputada estadual, cumprindo seu 3º mandato do legislativo amapaense. Em 06 de novembro de 2009, Rosemiro casou-se com Josiane Rocha.

Mesmo sendo torcedor fanático do Independente Esporte Clube, do qual foi presidente e um dos maiores incentivadores, Rosemiro também foi um dos idealizadores da fundação do Aliança Atlético Clube (conhecido pela alcunha de “Caçula do Porto”).

Com todas essas referências, Rosemiro sempre demonstrou simplicidade e humildade à frente de todos que o conhecem, demonstrando seu otimismo, mesmo sendo um cidadão vitorioso e bastante respeitado pelas inúmeras camadas sociais, que o consideram uma referência na articulação política, social e econômica para o município de Santana.



Parabéns, Rosemiro Rocha Freires pelos 60 anos de aniversário e 30 anos de vida pública.