Antigamente, quando ainda não tinham trazido a TV para o Amapá, um dos principais entretenimentos que as crianças e os adolescentes adoravam estar envolvido eram com as sessões cinematográficas.
Entre as décadas de 1950 e 1980 chegou a existir três cinemas em Macapá e dois em Santana. As duas únicas salas de projeções da minha cidade portuária eram socialmente diversificadas uma da outra: eram o Cine Nacional e o Cine Amazonas.
O humilde “Cine-Teatro Nacional”, construído na Vila Dr. Maia, foi inaugurado em 1969, numa cerimônia comparada à inauguração de uma grandiosa obra federal, com direito à presença do então Governador do Amapá General Ivanhoé Martins.
De propriedade do paraense Manoel Ribeiro (falecido), que residira em Santana desde 1961, o Cine Nacional, como era popularmente conhecido, exibiu grandes produções do cinema brasileiro e mundial. Ficava localizado na Rua Ubaldo Figueira (entre as Avenidas Santana e Castelo Branco), onde continha cerca de 100 cadeiras, para atender duas sessões diárias. Se não conseguisse chegar a tempo para a sessão das 16hs, tinha que esperar a sessão noturna das 19hs (ou quando não era às 20hs).
Procurou manter seu status de ponto de encontro para a sociedade santanense até o início da década de 1980, quando as locações cinematográficas passaram a sofrer altas infrações que culminaram no fechamento de diversas salas de exibição pelo país.
No mesmo local do extinto Cine Nacional, também chegou a funcionar outro cinema, que foi aberto ao público em outubro de 1988. Era o Cine Veneza II, filial de outro cinema construído na mesma época em Macapá, mas com curta duração, até meados de 1991. O prédio onde funcionou esses dois cinemas continua parcialmente intacto, onde já serviu de ala de ensaios carnavalescos e atualmente divide seu espaço com uma pequena mercearia comercial e uma residência.
Já o Cine Amazonas era uma referência em local luxuoso para apresentações artísticas, teatrais e cinematográficas. Construído pela mineradora ICOMI (sua concessora) numa área nobre da projetada e histórica Vila Amazonas, foi inaugurado em dezembro de 1960, com intuito de propor entretenimento e diversão para a família dos empregados da ICOMI.
Os filmes projetados no Cine Amazonas eram geralmente grandes produções do cinema norte-americano e vinham exclusivamente para locação do cinema da ICOMI. Os desenhos e filmetes infantis eram semanalmente alterados pela gerência do cinema e não havia cobranças na bilheteria para aqueles que tinham até 14 anos de idade.
Climatizado, sua sala de exibição tinha quase 140 lugares para atender às duas sessões diárias de filmes (era um filme diferente em cada sessão), que ficaram em cartazes por até 08 dias consecutivos. Por ser um cinema privado, as sessões eram quase sempre concorridas entre aqueles que residiam na área primária da Vila Amazonas e aqueles que residiam no Staff.
Como naquele tempo os filmes procuravam manter o sucesso por longos períodos, era comum os cinemas exibirem uma produção cinematográfica que tinha sido lançada há muito anos. O que o público exigia era assistir ao filme do começo ao fim, sem dar importância para sua longa data de lançamento. Poderia filmes coloridos ou até mesmo em preto-e-branco.
E falando em filme preto-e-branco, veio em minha memória um “causo” bastante hilário que aconteceu em Santana, justamente em novembro de 1962. Nessa época, a Paramount Pictures do Brasil trouxe para o Território do Amapá o grandioso longa-metragem “Os Dez Mandamentos” (1956), uma super produção do lendário diretor Cecil B. De Mille que contou com um batalhão de estrelas consagradas, que contabilizou e imortalizou o sucesso que o filme se tornaria para a história do cinema mundial.
Para quem já assistiu esta marcante versão bíblica que conta a vida de Moisés e seu povo hebreu, deve ter se fascinado com as imagens inesquecíveis da travessia do Mar vermelho e das dez pragas lançadas sobre o Egito.
Porém, a exibição desse filme no Amapá foi pouco privilegiada para quem residia nas proximidades da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Santana, que era coordenada pelo saudoso Padre ângelo Biraghi. Como a empresa distribuidora do filme trouxe apenas 03 rolos do filme para serem comercializados durante 05 dias, a locações desses rolos foram bastante disputados pelos cinemas de Macapá e os cinemas da ICOMI, o que comprometeu o interesse do Padre Ângelo em alugar um desses rolos para exibir em sua Paróquia santanense.
Após sucessivas conversações com o representante da Paramount, Padre Ângelo conseguiu que um rolo do filme fosse gratuitamente cedido para ser exibido para as crianças carentes da Vila Toco e Kutaca, mas com a condição de devolverem o filme no dia seguinte à exibição. Formalizado o pedido, o padre seguiu de imediato para Santana e espalhou o comunicado sobre a exibição gratuita do filme para quem quisesse assistir.
Quando anoiteceu, um grande número de pessoas adjacentes lotaram o pequeno espaço da Paróquia para prestigiarem o filme que, acabou causando uma certa surpresa para os presentes: a versão do filme trazido pelo Padre Ângelo era preto-e-branco e ainda estava incompleto, o que causou tristeza geral para quem só conseguiu assistir pela metade daquele filme.
Conta a lenda que, em represália, as pessoas que ficaram decepcionadas com a exibição do filme chegavam a comparecer na missa dominical e quando chegava na metade do sermão, se retiravam da Paróquia. Depois de observar tal atitude que se repetiu durante semanas, Padre Ângelo decidiu perguntar para alguns daqueles “gazeteiros de missa” o motivo de estarem fazendo aquilo. Até que um deles lhe respondeu:
– A culpa é do senhor mesmo, Padre. Foste nos prometer com um filme bom, mas a gente só assistiu a metade e não soubemos do resto filme. E assim vamos fazer na missa. Vamos assistir somente a metade e se o senhor quiser terminar o sermão, deixe o resto pra missa da semana que vem.
Entre as décadas de 1950 e 1980 chegou a existir três cinemas em Macapá e dois em Santana. As duas únicas salas de projeções da minha cidade portuária eram socialmente diversificadas uma da outra: eram o Cine Nacional e o Cine Amazonas.
O humilde “Cine-Teatro Nacional”, construído na Vila Dr. Maia, foi inaugurado em 1969, numa cerimônia comparada à inauguração de uma grandiosa obra federal, com direito à presença do então Governador do Amapá General Ivanhoé Martins.
De propriedade do paraense Manoel Ribeiro (falecido), que residira em Santana desde 1961, o Cine Nacional, como era popularmente conhecido, exibiu grandes produções do cinema brasileiro e mundial. Ficava localizado na Rua Ubaldo Figueira (entre as Avenidas Santana e Castelo Branco), onde continha cerca de 100 cadeiras, para atender duas sessões diárias. Se não conseguisse chegar a tempo para a sessão das 16hs, tinha que esperar a sessão noturna das 19hs (ou quando não era às 20hs).
Procurou manter seu status de ponto de encontro para a sociedade santanense até o início da década de 1980, quando as locações cinematográficas passaram a sofrer altas infrações que culminaram no fechamento de diversas salas de exibição pelo país.
No mesmo local do extinto Cine Nacional, também chegou a funcionar outro cinema, que foi aberto ao público em outubro de 1988. Era o Cine Veneza II, filial de outro cinema construído na mesma época em Macapá, mas com curta duração, até meados de 1991. O prédio onde funcionou esses dois cinemas continua parcialmente intacto, onde já serviu de ala de ensaios carnavalescos e atualmente divide seu espaço com uma pequena mercearia comercial e uma residência.
Já o Cine Amazonas era uma referência em local luxuoso para apresentações artísticas, teatrais e cinematográficas. Construído pela mineradora ICOMI (sua concessora) numa área nobre da projetada e histórica Vila Amazonas, foi inaugurado em dezembro de 1960, com intuito de propor entretenimento e diversão para a família dos empregados da ICOMI.
Os filmes projetados no Cine Amazonas eram geralmente grandes produções do cinema norte-americano e vinham exclusivamente para locação do cinema da ICOMI. Os desenhos e filmetes infantis eram semanalmente alterados pela gerência do cinema e não havia cobranças na bilheteria para aqueles que tinham até 14 anos de idade.
Climatizado, sua sala de exibição tinha quase 140 lugares para atender às duas sessões diárias de filmes (era um filme diferente em cada sessão), que ficaram em cartazes por até 08 dias consecutivos. Por ser um cinema privado, as sessões eram quase sempre concorridas entre aqueles que residiam na área primária da Vila Amazonas e aqueles que residiam no Staff.
Como naquele tempo os filmes procuravam manter o sucesso por longos períodos, era comum os cinemas exibirem uma produção cinematográfica que tinha sido lançada há muito anos. O que o público exigia era assistir ao filme do começo ao fim, sem dar importância para sua longa data de lançamento. Poderia filmes coloridos ou até mesmo em preto-e-branco.
E falando em filme preto-e-branco, veio em minha memória um “causo” bastante hilário que aconteceu em Santana, justamente em novembro de 1962. Nessa época, a Paramount Pictures do Brasil trouxe para o Território do Amapá o grandioso longa-metragem “Os Dez Mandamentos” (1956), uma super produção do lendário diretor Cecil B. De Mille que contou com um batalhão de estrelas consagradas, que contabilizou e imortalizou o sucesso que o filme se tornaria para a história do cinema mundial.
Para quem já assistiu esta marcante versão bíblica que conta a vida de Moisés e seu povo hebreu, deve ter se fascinado com as imagens inesquecíveis da travessia do Mar vermelho e das dez pragas lançadas sobre o Egito.
Porém, a exibição desse filme no Amapá foi pouco privilegiada para quem residia nas proximidades da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Santana, que era coordenada pelo saudoso Padre ângelo Biraghi. Como a empresa distribuidora do filme trouxe apenas 03 rolos do filme para serem comercializados durante 05 dias, a locações desses rolos foram bastante disputados pelos cinemas de Macapá e os cinemas da ICOMI, o que comprometeu o interesse do Padre Ângelo em alugar um desses rolos para exibir em sua Paróquia santanense.
Após sucessivas conversações com o representante da Paramount, Padre Ângelo conseguiu que um rolo do filme fosse gratuitamente cedido para ser exibido para as crianças carentes da Vila Toco e Kutaca, mas com a condição de devolverem o filme no dia seguinte à exibição. Formalizado o pedido, o padre seguiu de imediato para Santana e espalhou o comunicado sobre a exibição gratuita do filme para quem quisesse assistir.
Quando anoiteceu, um grande número de pessoas adjacentes lotaram o pequeno espaço da Paróquia para prestigiarem o filme que, acabou causando uma certa surpresa para os presentes: a versão do filme trazido pelo Padre Ângelo era preto-e-branco e ainda estava incompleto, o que causou tristeza geral para quem só conseguiu assistir pela metade daquele filme.
Conta a lenda que, em represália, as pessoas que ficaram decepcionadas com a exibição do filme chegavam a comparecer na missa dominical e quando chegava na metade do sermão, se retiravam da Paróquia. Depois de observar tal atitude que se repetiu durante semanas, Padre Ângelo decidiu perguntar para alguns daqueles “gazeteiros de missa” o motivo de estarem fazendo aquilo. Até que um deles lhe respondeu:
– A culpa é do senhor mesmo, Padre. Foste nos prometer com um filme bom, mas a gente só assistiu a metade e não soubemos do resto filme. E assim vamos fazer na missa. Vamos assistir somente a metade e se o senhor quiser terminar o sermão, deixe o resto pra missa da semana que vem.
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