Professor,
ex-vereador, ex-vice-prefeito do município de Santana e portador de um coração
grandioso. A trajetória de vida dele foi um rosário de vitórias. Nascido na
localidade de Limão, no município de Calçoene em 25 de maio de 1954. Filho de
Francisco Corrêa Nobre e Gentila Anselmo. O pai, um dos pioneiros de Santana,
começou sua vida como comerciante e a mãe, professora. Sendo ele o quinto de
uma prole de oito irmãos, iniciou os estudos no Grupo Escolar Porto de Macapá
onde a mãe lecionava. Depois transferiu-se para o Grupo Escolar Barroso Tostes,
na Vila Dr.º Maia. Concluiu o então curso primário e o colegial no Ginásio
Augusto Antunes. Como não havia o 2º grau em Santana, foi estudar no Colégio
Amapaense, em Macapá.
Como
era de praxe, quem podia e desejava concluir o curso superior teria que ir para
Belém (PA) ou para outros centros. Na capital paraense, formou-se em Ciências
Sociais pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Fez pós-graduação em Ciências
Políticas. Ao retornar para o então Território Federal do Amapá ingressou no
magistério. Foi professor de Geografia e Ciências Sociais, no Colégio
Amapaense, onde exerceu a função de vice-diretor. Em Santana lecionou as mesmas
disciplinas na Escola Estadual Barroso Tostes. Nesta instituição de ensino
chegou ao status de diretor.
Orgulho dos Pais – Tinha boas recordações da infância
vivida na pequena vila portuária de Santana. Contava com orgulho da proteção e
do carinho dos pais, que lhe ensinaram os valores morais e espirituais. A mãe
era uma figura do anjo da guarda. Católico convicto e praticante, sempre
acompanhado pelos pais, ia cedo para a igreja. E foi justamente na igreja, no
Movimento Cristão, que Redimilson Nobre revelou-se como um bom orador,
debatedor, inquieto, filósofo e com grande poder de persuasão. A convivência em
grupo lhe ensinou a arte da liderança. Aos poucos ia se consolidando o futuro
político. Com um caráter sedimentado nos valores da sinceridade, lealdade,
honestidade, teve a coragem de dizer o que pensava e a humildade de pedir
desculpas quando errava.
Era
às vezes intempestivo, mas com o tempo, um homem com todas as razões, na qual
dominava seu ímpeto, um comportamento herdado pelo pai. O “seu” Francisco Nobre
(também conhecido como “Chico Jacaré”) foi o primeiro Agente Distrital de
Santana e havia ganhado da Indústria e Comércio de Minérios S/A (ICOMI), o
Projeto Urbano da Vila Maia. “Os engenheiros do extinto Projeto Rondon ficaram
fascinado pelo Plano Urbanístico e pediram o projeto emprestado do meu pai,
alegando que iriam apresentá-lo na Universidade Federal do Rio de Janeiro e
nunca mais trouxeram o projeto de volta. Tempos depois fiquei sabendo que um
engenheiro havia sido agraciado com um mérito honroso, apresentando esse
projeto como se fosse de autoria dele”, contou magoado o professor.
Um aluno Brilhante – Quem conviveu na infância com
Redimilson Nobre relatou que ele sempre demonstrou ser um aluno brilhante,
tirando as melhores notas e se destacando em todas as tarefas escolares. Quando
universitário, em Belém (PA), notabilizou-se por estar entre os cinco melhores
alunos, durante todo o curso. “Não nasci para fazer trabalhos braçais. Por isso
sempre procurei estudar, ser o melhor em tudo. Queria assegurar o espaço de
destaque na sociedade. Este sempre foi o meu princípio, meio e fim”, comentou
Redimilson. Como aluno modelo do Colégio Amapaense, Redimilson foi agraciado
várias vezes, pela imprensa amapaense, com o título de “O Grande Estudante”.
No
período de 07 a 15 de agosto de 1974 representou o Território do Amapá, no Rio
de Janeiro e São Paulo, na Maratona Euclidiana, onde palestras sobre a vida e
obra do escritor Euclides da Cunha, eram proferidas por estudantes que
representavam Estados e Territórios brasileiros.
O
jovem estudante Redimilson Nobre foi escolhido por uma comissão de associados
do Lions Clube de Macapá, que havia recebido o convite do evento da Secretaria
de Cultura, Esportes e Turismo do Estado de São Paulo (SP). Redimilson
arrebatou o honroso 3º lugar para o Amapá, mesmo tendo disputado com renomados
estudantes de todo o país. “Foi a glória amapaense brilhando lá fora”, assim
estampava a imprensa da época. Após a conclusão do curso submeteu-se ao
concurso público na Capital Federal (Brasília-DF), sendo um dos primeiros
colocados. Devido a excelente pontuação, teve o privilégio de escolher o Estado
onde gostaria de trabalhar. Decidiu então retornar para a pequena e humilde
cidade portuária de Santana (Amapá), com isso, lembrando sempre que o ensino
público do então Território do Amapá era bem mais eficiente que hoje.
Resgatando os Velhos Tempos – Redimilson lamentou sobre a qualidade
recente do ensino público, se comparado à sua época, onde hoje os alunos de
escolas particulares superam em muito os das escolas públicas, deixando-os em
desigualdade na concorrência tanto para o vestibular quanto para outros
concursos. Criticou duramente a proliferação de inúmeras faculdades e escolas
particulares que se formavam constantemente no Amapá. Constatou que o ensino
supletivo era uma indústria de analfabetos, onde o aluno não sabia nem o que
estava fazendo. Não tendo metas nem destinos, muito menos chance de sonhar com
uma universidade. Enquanto professor do ensino público, ele primava pelo que
fez por que era um sacerdote. Esteve arrebatando inumeros colegas de
salas-de-aula (professores) e tentou repetir façanhas históricas como ocorrido
na década de 1970, quando os estudantes do país inteiro disseram não ao ensino
privado.
Antigamente,
o ensino escolar rigoroso, mas o estudante amapaense estava preparado para
garantir seu espaço na universidade. “Havia uma espécie de rivalidade saudável
para ficar no pódium de melhor aluno. Como santanense também entrava no jogo e
sempre fui destaque.”, dizia Redimilson com um sorriso aberto e com ar de
vitorioso.
Política no Sangue – Dizia que todo mundo nascia político.
“O homem é um ser político”, falava. Ainda na década de 1970, o jovem estudante
já apresentava o dom da comunicação, da expressão, da liderança, estando
envolvido com grupos de jovens, movimentos estudantis e outras atividades que
interagissem com a sociedade. Fundou o Clube Jovem de Santana e foi presidente
do Grêmio Estudantil, por onde passou. Por ser contestador, falante, sempre foi
atração. Por isso foi chamado na Fortaleza de São José de Macapá (em 1977),
durante o período ditatorial, por suspeita de envolvimento subversivo. Após o
interrogatório, foi publicamente elogiado pelas atividades sociais e esportivas
que vinha realizando.
Nada de Radicalismo – Professor Redimilson se dizia
moderado. Não concordava com o radicalismo da esquerda, que para ele era um
socialismo irreal. Acreditava que se mesclar as idéias, equilibrando na balança
o que é bom da direita e da esquerda, e aplicando na vida práitca, visaria o
bem estar de todos. Como militante partidário, se considerava um autêntico
liberal. Devido a esse pensamento e envolvimento social, foi Vereador de Macapá
em dois mandatos. A primeira foi em Novembro de 1982, eleito com 1.223 votos,
tornando-se um dos três legisladores que representariam Santana na Câmara
Macapaense. Para ele, o bom político não prcisava ostentar o poderio econômico,
e sim, ser votado por uma opção de melhoria e bem-estar da comunidade, e não
por vaidade pessoal.
Em
seu primeiro mandato municipal, acompanhou a construção de diversas obras em
Macapá e Santana, assim como também paresentou inúmeros Projetos de Lei de sua
autoria que foram debatidos e aprovados. Tais como: a construção de uma feira
livre no bairro Nova Brasília, em Santana (PL 031/85); a expansaão de lotes
urbanos no Jardim Paraíso em Santana (PL 042/85); a colocação de linhasde
ônibus para atender os bairros Congós e Muca, ambos se formavam aleatoriamente
em meados da década de 1980 (PL 088/85), entre outros requerimentos.
Devido
o eloqüente e sensato discurso, sempre foi a atração na Tribuna da Câmara
Municipal de Macapá, retornando na legislatura seguinte, reeleito com 1.589
votos. Em 09 de Novembro de 1987, funda em Santana a ELOS (Esporte, Lazer,
Organização e Solidariedade), contendo 52 artigos em seu estatuto. Em 1987,
atuou como Membro da Comissão de Justiça e Redação do legislativo macapaense,
assim como secretário da Comissão de Educação, Saúde e Assistência Social.
Participou do II Congresso Municipal do Brasil, em Brasília (DF); participou do
XIII Simpósio Tributário, no Rio de Janeiro (RJ); e esteve no XXIV Encontro
Nacional de Vereadores, em Natal (RN).
Como
vereador questionou duramente sobre os inúmeros problemas sociais que aflingiam
as populações de Macapá e Santana, principalmente de sua cidade (Santana),
entre muitas reivindicações, houve duas grandes situações que repercutiram na
época (1987) na imprensa local e nacional: a permanência de barracas
construídas em alvenaria que serviriam de feira popular, ao longo do muro de
proteção da empresa ICOMI, na área portuária de Santana. Como na época a
Prefeitura de Macapá somente autorizou 32 barraqueiros, fiscais constataram que
já haviam mais de 80 barracas montadas no local, onde muitas até já serviam de
moradia (o que era proibido na época). Outro fato ocorreu em fevereiro de 1988,
quando Redimilson apresentou na Câmara de Vereadores de Macapá, o Projeto de
Lei 017/88, que obrigaria a mineradora ICOMI a desativar sua lixeira e auxiliar
o Poder Público Municipal na procura de um novo local para a implantação de uma
lixeira para uso público, pois, como o recém-criado município de Santana já
sofreria com possíveis crescimentos de ordem populacional, a cidade de Santana
correria um sério risco de ver uma lixeira doméstica se formar no meio da
cidade. A mineradora ainda tentou rebater sobre a situação e manter a lixeira,
mas depois acatou o pedido.
Em
maio de 1993 recebe o convite do então prefeito de Santana Geovani Borges para
assumir a Secretaria Municipal de Educação de Santana no lugar da professora
Maria Aparecida, ficando no cargo até junho de 1995. Durante dois anos
demonstrou sua capacidade de administrar, onde atualizou o fornecimento de
merenda escolar nas instituições de ensino do município; ampliou consideravelmente
o número de vagas nas escolas rurais e urbanas de Santana; ajudou na fundação
do Conselho Municipal de Educação de Santana em 1994; Participou da reorganização
do Conselho Estadual de Educação; entre outas ações.
Vida Modesta – De vida simples, mas sempre atuante
foi se mantendo com prestígio no município de Santana, até que em junho de
2000, receberia um convite para integrar a chapa do então Deputado Estadual
Rosemiro Rocha para compor na campanha municipal, sendo o candidato como
vice-prefeito. Com a vitória de Rosemiro, ainda acumulou o cargo de Secretário
Municipal de Saúde por oito meses, fortalecendo os postos de saúde com
medicamentos e entregando os postos de saúde da Área Portuária e da Ilha de Santana
(recém-reformados).
Mas
não só de política partidária viveria o mestre Redimilson. Era torcedor fanático
do Flamengo e do Independente Esporte Clube. Criticava severamente os
profissionais que não exerciam o sacerdócio do trabalho com amor, dedicação e
devoção. Era também contrário aos baixos salários dos servidores, mas dizia que
isso também não justificava o descaso, o péssimo atendimento, o destrato com as
pessoas, principalmente as mais humildes.
Um
dos grandes sonhos de Redimilson era ver todos na escola, com direito à saúde
preventiva e curativa, com salários capazes de prover as pessoas de uma vida
digna, saudável, alegre, feliz, que não houvesse tanta desigualdade social. Como
fervoroso cristão, dizia que esta vida era passageira e que cada um de nós
temos uma missão a cumprir, um compromisso com Deus. Deixou-nos na noite de 09
de Agosto de 2013, vítima de parada cardiorespiratória, pois sofria de
problemas renais crônicos.
Perderia
Santana um filho, mas nossa história ganharia um mito a ser registrado por seu
trabalho.