Na semana que passou estive organizando alguns assuntos de meu extenso arquivo historiográfico sobre os primórdios de Santana e acabei me deparando com este poema, publicado originalmente no jornal “O AMAPÁ” do dia 13 de fevereiro de 1955 (edição 608), de autoria do escritor-poeta Álvaro da Cunha, que descreve um pouco daquilo que poderia ser nossa referência portuária para a toda a Amazônia e o Brasil, se as autoridades dessem um pouco mais da necessária atenção.
Leia:
PORTO DE SANTANA
Porto mestiço,
Meio rio, meio mar
Ao mesmo tempo ilha e continente.
Pulmão do mundo.
Aberto, de repente,
Para a terra ansiosa respirar.
E o ferro, e o aço,
O encontro jugular das ligas,
Na soldagem da estrutura –
São velas de engenhosa contextura,
Para o sangue da terra circular...
Porto do Norte,
Porto Boreal,
Geometria de fórmulas vencidas.
És rude, em tua dureza de metal;
Sinistro, em tuas pranchas desmedidas.
Mas teus essa doçira universal
De um amplo e meigo abraço cardeal;
De estação de regresos e partidas.
E é assim que eu te amo,
Porto amigo, que surpreendo
Implácido e romântico,
O Amapá transformando-se,
Contigo, numa esquina amazônica
Do Atlântico...
Nas cores das bandeiras que exibirem
Os mastaréus dos barcos carregados,
Verei pátrias surgirem e ressurgirem
De “mares nunca dantes navegados”.
E o amor,
O velho amor dos litorais,
Amor em trânsito, amor em despedidas,
Há de escrever em versos,
Sobre o cais,
Mensagens de outros povos de outras vidas.
Saudade vão ficar, ficando a amarga
Lembrança de ilusões não conluídas!
(mas em todos os portos, repetidas,
No intervalo da carga e da descarga)...
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